Tese de doutorado defendida pela Cirurgiã-Dentista Helenice Rodrigues Ferreira Amaral, da Universidade Cruzeiro do Sul, observou a influência do uso prolongado de chupeta durante a infância e o tabagismo na adolescência e na idade adulta. O estudo contou com a participação de pesquisadores da Faculdade de Odontologia da Universidade de São Paulo (FOUSP).
O mestre e doutor em Odontopediatra, professor associado do Departamento de Ortodontia e Odontopediatria da Fousp, Fausto Medeiros Mendes, que é um dos autores, conta que a ideia de verificar essa associação surgiu inicialmente em 2004. “Ainda na época de seu mestrado e tendo como base algumas teorias da Psicologia, Helenice pegou uma série de prontuários clínicos do consultório de odontopediatria que havia trabalhado entre os anos de 1988 e 1994, na cidade de Ibiá, em Minas Gerais, e sugeriu que esses pacientes fossem procurados novamente para responder um questionário sobre tabagismo, a fim de confirmar se havia essa associação.”
“entre as possíveis explicações para essa relação está a questão do papel ‘calmante’ tanto da chupeta na infância, como do cigarro…”
Depois de dois anos de coleta de informações, a autora conseguiu contatar 261 pacientes (de 314 prontuários) para perguntar se eles haviam fumado mais de 100 cigarros durante a vida. “Quando os dados foram analisados, observamos uma forte associação entre o uso de chupetas por mais de 24 meses e o hábito de tabagismo, sendo que os indivíduos que haviam usado chupeta por mais de 24 meses apresentaram um risco, aproximadamente, quatro vezes maior de ter sido tabagista em algum momento da vida”, conta Fausto.
O professor esclarece que, entre as possíveis explicações para essa relação está a questão do papel ‘calmante’ tanto da chupeta na infância, como do cigarro em uma idade mais avançada. “Outra possibilidade seria possíveis implicações psicológicas, defendidas por artigos mais antigos. O fato observado ainda estaria ligado à teoria que diz que eventos ocorridos na infância podem ter efeitos significativos em episódios de maus hábitos e doenças crônicas no decorrer de toda vida, uma teoria conhecida como ‘life course theory – teoria do curso de vida’.”
Mais recentemente, a autora investigou o mesmo assunto para sua tese de doutorado agora em outra população da cidade de Bom Despacho, Minas Gerais, em ex-pacientes de seu consultório que haviam sido atendidos no ano 2000. “A mesma associação entre o uso prolongado de chupeta e o tabagismo foi encontrada. O artigo desse novo estudo ainda está em fase de redação”, conta Fausto.
Apesar de as duas pesquisas conduzidas pelo grupo terem mostrado essa associação, o pesquisador destaca que ainda são necessários mais estudos para confirmar esses achados. “Os trabalhos realizados por nosso grupo são de coorte histórica, que acompanham o paciente ao longo do tempo. No entanto, como os dados de uso de chupetas foram obtidos em prontuários odontológicos (e não para finalidade específica de pesquisa), a qualidade da coleta dessas informações pode não ser tão confiável. Portanto, novas pesquisas com um melhor delineamento experimental são necessárias para confirmar os achados, assim como para entender melhor os mecanismos por trás dessa associação”.
O artigo foi publicado no periódico internacional European Addiction Research, e pode ser acessado em www.karger.com/Article/Abstract/365351